Era sábado de manhã e o calor não dava trégua: passava dos 36 graus. Dezenas de pessoas se acotovelavam por centímetros de vento – que vinha úmido e abafado. Os fiéis também disputavam esse espaço para ficarem cada vez mais perto da grade de contenção das forças de segurança. Uma massa de pessoas formava uma só unidade: aquela fiel à Nossa Senhora de Nazaré. Estávamos na manhã do dia 7 de outubro em Belém, no Pará, e era o começo do ápice do Círio de Nazaré, o maior evento católico do mundo. Teríamos ainda a Transladação, no sábado à noite, e o ponto auge do evento: a peregrinação do Círio de Nazaré no domingo de manhã.
Em meio aos fiéis, voluntários da Cruz Vermelha se destacavam. Grupos vestidos com a tradicional cor vermelha olhavam, atentamente, para todos os lados. A participação da Cruz Vermelha acontece durante todo o final de semana do Círio. “Temos mais de 100 apenas nesse quarteirão” me disse uma voluntária durante o começo da romaria das motocicletas, no sábado cedo. “Hoje devemos ter uns seis mil voluntários” me confidenciou outra no domingo de manhã.
São pessoas que passam horas e horas em pé apenas esperando o alerta de um próximo atendimento. Funciona assim: os grupos ficam andando no meio das milhões de pessoas; de repente, começam os gritos de pedidos: “Cruz Vermelha!”, “Atendimento”; e aí os voluntários saem em disparada. Fazem os primeiros socorros e começa uma peregrinação não de fé, mas de Humanidade. Os voluntários começam a abrir o mar de gente aos gritos e com as macas nos braços, geralmente içadas acima das cabeças. Contam com a solidariedade e a atenção dos fies. Rapidamente, chegam às dezenas de postos de atendimento espalhadas pelos 3,6 quilômetros do Círio.
Segundo uma das voluntárias, os principais problemas são desmaios por causa do calor e luxações de braços e pernas, principalmente nas pessoas próximas à corda.
A fé e a força desses voluntários é inabalável.