O clima era de final de campeonato em Curitiba na quarta-feira, 13 de setembro, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato. A cidade se dividiu entre vermelho e verde-amarelo. As rádios e TVs estavam de plantão desde as primeiras horas da manhã, com flashes ao vivo, mensagens de ouvintes, entrevistas com cientistas políticos: tudo sobre o depoimento de Lula.
Para que não se confrontassem, os grupos fizeram seus protestos em locais distantes. Os apoiadores do juiz Sérgio Moro reuniram-se em frente ao Museu Oscar Niemayer-MON, na esquina das ruas Marechal Hermes e Manoel Eufrásio. Eram 50 pessoas, todos vestidos com camisetas, bonés, apitos, bandeiras, lenços em cores verde e amarela. Apesar de o grupo ser reduzido, o barulho era grande. Uma faixa dizia “Se você quer Lula na cadeia, buzine!”. Um pequeno caminhão de som fazia apoio ao pessoal que gritava: “Viva Lava Jato”, “Viva Sérgio Moro”, “Nossa bandeira é verde e amarela, não vermelha”, e buzinas, muitas buzinas. Uma gigantesca faixa com mais de 100 metros foi colocada no gramado do MON com a frase: “Lula na cadeia”. Chamava muito a atenção um boneco de cinco metros do juiz Sérgio Moro vestido de Super-Homem. As selfies e transmissões ao vivo para as rede sociais eram feitas a todo instante. Na esquina, meio tímido, seu Pedro Rodrigues Leite, 63,vendia bandeiras à R$ 5,00, apitos dois por R$ 5,00 e cachecol R$ 10,00. “Tudo isso não passa de fuleragem, bobeira”. Comenta ainda que o povo não tem mais poder de decisão como na década de 70 e 80. “Agora a decisão está nas mãos dos políticos, que só defendem interesses particulares”. Do outro lado da rua, a comerciante Fátima dos Santos, 55, vende suas camisetas da República de Curitiba por R$ 40,00. “Não vendi muitas hoje. Acho que o movimento está perdendo a força”. Em meio aos apitos e buzinas, o pequeno caminhão de som toca boas músicas de Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Cazuza, que casam com nossa situação política.
No meio do grupo surgem duas garotas, com uma caixa de isopor cada uma, vendendo empadinhas e suco de abacaxi com hortelã para refrescar, já que Curitiba está com sol de 30 C. O salgado custa R$ 2,00 e o refresco R$ 0,50. Nicole, 16 e sua irmã Anna Julia, 11, estão felizes por estarem vendendo tudo. Nicole diz: “Acho que os adolescentes deveriam participar mais desse tipo de protesto, porque devem saber o que está acontecendo no Brasil”. Comenta que na sua escola ninguém apoia Lula, todo mundo gosta do Sérgio Moro.
Pela segunda vez em Curitiba, o bombeiro civil, Ilmo Rodrigues, 45, da cidade de São Paulo, veio para a mobilização. “Vim sozinho para apoiar a operação Lava Jato e o juiz Sérgio Moro.”
A praça central de Curitiba, com o nome de um grande político paranaense, Generoso Marques, recebeu mais de 2 mil pessoas, segundo a polícia militar. A partir das 14h grupos de apoio ao ex-presidente Lula começaram a realizar atividades como música e discursos de representantes de entidades. Ali era um caldeirão de regiões do Brasil. Grupos do Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e do interior do Paraná, todos com um único objetivo: apoiar Lula. As pessoas se misturavam às barracas de ambulantes, que eram muitas. Gritos de refrigerante, cerveja, água, cocada, sanduíches, maçã do amor, camisetas, livros, botons, bandeiras, faixas, parecia um grande mercado popular a céu aberto. Em um canto da praça estava João Nelson, 53, metalúrgico, veio com seu amigo vender faixas R$ 5,00, bandeira R$ 10,00. “Vim ganhar um dinheiro e ver o Lula falar. Sempre votei nele e voto novamente.”
Em meio a fumaça dos espetinhos estava dona Madalena Paim, 68, agricultora de Quedas do Iguaçu, interior do Paraná. Veio sozinha com o grupo do Movimento Sem Terra- MST. “Estamos com mais de 160 pessoas aqui para apoio o Lula, ele é nosso defensor”, diz. “Sigo ele há mais de 30 anos, sempre vai ter meu apoio.” Ainda comenta: “O povo tem que estar na rua, se unir, e não brigar como times de futebol.”
Todos estavam esperando o discurso de Lula. Alguns sentados e cansados, outros agitando as bandeiras, muitos jovens batucando um som parecido com a batida do coração. A praça pulsava de pessoas. Ao anunciar a chegada de Lula, às 18h40, um enorme coro ecoou na região central da cidade. Como sempre faz, Lula desceu do carro e foi cumprimentar os populares que o esperavam atrás do caminhão de som, chamado Tremendão. Antes de seu discurso, fez corações para a multidão que lhe esperava há cinco horas. Discursou por apenas 15 minutos, mas o brilho nos olhos e a esperança de todos que ouviam seu relato era surpreendente.
Ao acabar, agradeceu, reafirmou sua candidatura à presidência em 2018 e foi embora aos gritos de “Lula guerreiro do povo brasileiro”!
Ao comparar os grupos encontra-se duas qualidades que poderiam se juntar pelo Brasil: a convicção dos pró Moro e a esperança dos pró Lula.